Algumas das perguntas mais frequentes entre os pacientes:

Do que eu sofro?

Esta pergunta é uma pergunta capital no consultório, que se apresenta de diferentes maneiras na experiência clínica dos atendimentos. O sofrimento psíquico costuma se apresentar, seja através dos sintomas ou de repetições de situações na vida, de um modo muito misterioso, irracional e incompreensível para o paciente, tanto para ele quanto para as pessoas de seu convívio, e costuma causar perturbações importantes, por vezes verdadeiras rupturas, em seu cotidiano e em seus relacionamentos sociais.

É geralmente num momento agudo de crise que o paciente vem buscar ajuda, e o sofrimento psíquico pode por vezes assumir um caráter devastador, ou profundamente desconhecido. O fato de o psiquiatra, através do arsenal teórico- prático dos conhecimentos que porta, poder através da escuta elaborar um diagnóstico e proposta terapêutica e comunicá-los ao paciente, ou seja, o fato de o médico poder nomear alguma coisa do sofrimento, isso costuma já num primeiro tempo conferir grande alívio ao paciente e abrir para ele uma perspectiva de cura.

Tem cura?

Esta é uma pergunta que aflige bastante os pacientes, justamente pelo caráter de estranheza que porta, o sofrimento psíquico. O mais comum é que os sintomas, depois de aparecerem pela primeira vez, venham a se reapresentar ao longo da vida. Por vezes ficam mais crônicos, e não chegam a desaparecer por completo, e por outras remitem, ficam um bom tempo sem voltar, e reaparecem em determinado momento da vida, obrigando o paciente a retomar o tratamento.

Essas características, aliadas ao sofrimento implicado pelo surgimento dos sintomas, acabam deixando os pacientes bastante inseguros, e por vezes desesperançosos e cansados. É por esses fatos que a meu ver o psiquiatra pode ser um grande aliado do paciente, como alguém que, através da parceria nas consultas, pode oferecer o tratamento como um espaço de construção e aquisição de saber por parte do paciente, em relação ao seu sofrimento.
Neste sentido, costumo reforçar que não há uma única via de tratamento, e que o tratamento pela psicanálise pode ser de grande valia.

Costumo dizer que tratamos visando uma cura, e que é um desejo muito justo esse, o de curar-se! Mas se tem algo que especialmente a psicanálise ensina, é que o funcionamento psíquico, com suas particularidades em cada paciente, traz em si alguma coisa de “incurável”, e todavia, que esse incurável, que se reapresenta quase como um “defeito de fabricação”, é justamente o que há de mais singular em cada sujeito, chegando mesmo muito perto de uma identidade, então ir esclarecendo o que diz respeito a esse incurável pode ir ajudando o paciente a fazer alguma coisa com isso, que ao mesmo tempo lhe é tão estranho e tão seu, podendo talvez conferir um pouco mais de suavidade, e menos culpa, na convivência com sua singularidade.

Talvez o que possamos conceber como bom fruto de um trabalho psicanalítico, que esteja mais próximo da cura, seja menos da ordem do “extinguir”, e mais da ordem do “saber fazer com” o modo singular e individual de funcionamento subjetivo. Este é um trabalho que demanda investimento e tempo, mas pode ter efeitos surpreendentes na vida do paciente.

E os remédios?

Hoje em dia os psiquiatras podem contar com uma oferta relativamente grande de medicações para tratamento dos sintomas psíquicos. As medicações atuais, diferentemente das medicações usadas antigamente, costumam causar menos efeitos colaterais e serem mais seguras para o organismo.

Porém, toda medicação pode potencialmente causar efeitos colaterais ou ser danosa de algum modo, então na prática como psiquiatra costumo ser muito cuidadosa na escolha da medicação, optando pelo mínimo necessário de remédio, tanto em relação às doses quanto em relação às associações medicamentosas.

Entendo que a estratégia de medicação deve poder acompanhar e se adequar à vida do paciente, de modo a não tornar-se prejudicial, por exemplo causando muita sonolência, ou alterações da motricidade ou concentração, então sempre fico muito atenta e disponível para revisão da estratégia medicamentosa para chegar o mais próximo possível da combinação entre efeitos terapêuticos positivos e ausência ou mínimo de efeitos colaterais negativos.

Ao longo do tratamento, as doses e combinações podem variar bastante, chegando a haver fases em que o paciente segue em tratamento sem necessitar da medicação. Procuro sempre individualizar a estratégia medicamentosa, e ser muito disponível a discutir essa estratégia valorizando a opinião do paciente.

Qual a duração do tratamento?

Esta é outra pergunta frequente, e na maior parte das vezes relacionada ao tempo de tratamento medicamentoso. Considero uma pergunta que só poderá ser respondida no caso a caso, e em conformidade com o diagnóstico, mas costumo recomendar um tempo mínimo que não seja inferior a um ano de tratamento com medicação.

É relativamente comum que os sintomas reapareçam com a interrupção do uso da medicação, às vezes em pouco tempo, às vezes anos depois da descontinuação do remédio. A relativa frequência de recidiva dos sintomas à descontinuação do tratamento medicamentoso , constitui outro motivo que me leva a recomendar também o tratamento por outras vias, pois um tratamento em psicoterapia ou em psicanálise muitas vezes permite ao paciente que possa lidar de outra maneira com o reaparecimento de sintomas, sem necessariamente ter que retomar a medicação.

Em outras situações, especialmente em casos mais graves em que fica um pouco mais difícil descontinuar o tratamento medicamentoso, o tratamento pode se estender por vários anos, porém considero que ao longo dos anos é importante manter com o paciente uma postura dinâmica de trabalho contínuo, de modo que ele possa ir se apropriando de seu tratamento.

E por vezes o tratamento psiquiátrico pode continuar mesmo com o paciente estável , por vários anos, pois o paciente reconhece o espaço de tratamento como algo que lhe confere um apoio na vida, um espaço de confiança que ele pode lançar mãos de tempos em tempos, para “registrar” contando ao psiquiatra como anda sua vida, como tem feito para lidar com o mal estar psíquico.

Já em psicanálise, o tratamento costuma ser de longa duração, e se estender no decorrer de anos. Mas neste tratamento, o paciente vai em sua análise até onde quer, não existe uma determinação por parte do psicanalista neste aspecto em relação à duração do tratamento.

A experiência de uma psicanálise pessoal é uma experiência que pertence ao paciente, apesar de ser realizada aos pares (analista e paciente), e pode ao longo do percurso ser realizada através de mais de uma parceria, ou seja, com mais de um analista.

Como costuma ser uma experiência mais longa, pode acontecer de o paciente ir até determinado ponto com um psicanalista, interromper o trabalho e retomá-lo depois com um outro analista.

Porém, para o psicanalista que atende, a situação é um pouco diferente: apesar de que a conclusão de um bom trabalho psicanalítico implicar o fato de o analista acabar por se tornar desnecessário, como uma espécie de resíduo – momento em que o paciente caminha com suas próprias pernas e com o saber adquirido em sua análise – enquanto o paciente desejar manter a parceria , é dever do psicanalista estar lá para dar continuidade a essa experiência, até o momento em que ela se encerre.