Na experiência de atendimento em consultório, pelo fato de ser psiquiatra, os pacientes costumam chegar até mim por conta do sofrimento psíquico. O tratamento em psicanálise, assim como o tratamento em psiquiatria, parte inicialmente do acolhimento do paciente em seu sofrimento, através da oferta de uma escuta do seu relato, e como muitas vezes o paciente me procura como psiquiatra, não deixo de oferecer e realizar o tratamento como tal.

Há, entretanto, uma diferença entre a psicanálise e a psiquiatria, pois para a psiquiatria os sintomas relacionam-se a determinados fatores desencadeantes, ou hereditariedade, ou um desbalanço dos neurotransmissores, e são tratados de um modo mais generalizável, através de diretrizes traçadas e padronizadas pelos manuais da medicina.

Já para a psicanálise, os sintomas estão vinculados a uma causa.

Esta causa, é indissociável da história da vida do paciente, cujo enredo é único a cada caso, e ao longo do tratamento, através da realização das sessões psicanalíticas, e na parceria estabelecida entre o psicanalista e o paciente, esta causa vai ficando um pouco mais clara para o paciente.

Um tratamento em psicanálise, apesar de muitas vezes partir do mesmo ponto inicial que um tratamento em psiquiatria, costuma ir além do primeiro, visto que, para a psicanálise, o sintoma psíquico é apenas uma das formas de manifestação, uma das roupagens, desta causa em questão.

Esta causa, que se aproxima muito mais de “um modo de funcionar”, particular para cada pessoa, também se manifesta através de outros acontecimentos na vida, como os sonhos, os chistes (ditos espirituosos, ou humor), trocas de palavras não intencionais, atos falhos, atos sintomáticos,  e esquecimentos. Estas manifestações, que na vida muitas vezes provocam enigmas  (e fazem o paciente falar delas), e  que seriam irrelevantes para a psiquiatria por exemplo, em psicanálise vão ajudando o paciente a elucidar o que está em jogo em seu funcionamento subjetivo, que muitas vezes se apresenta a ele como um “mau” funcionamento, na vida, gerando angústias e dificuldade de mudar ou sair de situações repetitivas de sofrimento.

Através da experiência de análise pessoal, o paciente tem a chance de ir com o tempo, e com os esclarecimentos conquistados por este trabalho, podendo inventar soluções singulares, arranjos na vida em que possa ir “sabendo um pouco mais e fazendo” com este funcionamento que é tão seu. Deste modo, e na minha prática, entendo que as duas frentes de tratamento não são inconciliáveis, pois caso o paciente queira ou precise, ele pode utilizar uma medicação que alivie os sintomas, e muitas vezes para ele é suficiente o tratamento psiquiátrico.

Mas caso se interesse pela causa e queira “ir além”, ele pode contar comigo para experimentar esta outra via de tratamento do mal estar psíquico, que a psicanálise oferece. Como em psicanálise cada caso é único, também é singular a forma como se dará essa experiência, de modo que a periodicidade e valor das sessões são definidos caso a caso.